A questão do método secretarial e da metodologia secretarial
A
questão do passo a passo sempre foi muito cara para mim: é preciso orientar as
pessoas acerca da melhor ou mais prática forma de se fazer algo. Isso, pois,
entendo que estamos aqui como seres passageiros e em processo de evolução.
Evoluímos e podemos ajudar outras pessoas em seus processos de evolução.
Processo, entendido como um passo a passo
estrategicamente sistematizado com um objetivo específico. Nossa vida é
permeada por processos, ou passo a passos estrategicamente sistematizados.
Hoje
o grande desafio da/o profissional de secretariado é estabelecer os processos
por trás de suas complexas práticas. Por diversos momentos, sabemos como fazer
algo, mas não conseguimos estabelecer as rotas para fazermos da melhor forma
possível. Em meu livro Teoria Crítica Secretarial,
chamo a atenção para a importância da formação não formal no secretariado,
aquela realizada em ambientes não formais de ensino e por meio da interação de
profissionais e troca de saberes e conhecimentos, que por diversas vezes
realiza-se sem uma sistematização, ou seja, sem um passo a passo.
Conhecimentos, entendido como saberes
estrategicamente sistematizados. A prática profissional é permeada por saberes
e conhecimentos, garantindo a excelência de uma atuação que dispõe de uma
formação complexa, integrada, interdisciplinar e estratégica.
A
grande questão é que nem sempre tais saberes e conhecimentos estão no
consciente, aquele espaço mental de fácil acesso, mas sim no inconsciente,
aparecendo quando estamos em momentos críticos que nos é exigida uma postura
mais objetiva. Por não termos consciência de muito do que sabemos ou
conhecemos, surge o mito da intuitividade da prática ou da obviedade. Parece
ser óbvio fazer determinada coisa de determinado jeito, mas não é, ainda que
você não tenha consciência dos saberes e conhecimentos desencadeados para
determinada ação, eles foram assimilados e internalizados por você em algum
processo de aprendizagem, formal ou informal. O mesmo ocorre para a intuição:
vivências, saberes e conhecimentos são desencadeados simultaneamente orientando
a sua prática para um caminho que, de acordo com suas vivências e leituras
(conscientes ou não), é mais seguro para você.
Nesse
aspecto, a sistematização apresenta-se como uma estratégia para evitar uma
eterna dependência da “intuição” ou “obviedades”. Quando sistematizamos
processos, temos mais chances de garantir a qualidade dos resultados previstos.
Sobre a aplicação de métodos no cotidiano secretarial
Após
essa introdução, podemos focar agora em entender o que é método e metodologia.
Recorramos a um exemplo: imagina que você foi convidado para definir os fluxos
de trabalho de um setor. Você então estabelece um roteiro de trabalho: primeiro
você irá observar como os profissionais atuam no setor; depois você
entrevistará a equipe para entender melhor os processos; feito isso, você fará
leituras estratégicas e aplicadas às práticas profissionais encontradas e
sistemas utilizados; ao término das leituras, você buscará identificar as
melhores formas de se desenvolver tais práticas, considerando a teoria e os
cases de sucesso de outras empresas; então você começa a construir os
fluxogramas das atividades; por fim, você apresenta à equipe para aprovação ou
adequações.
Parece
um roteiro muito natural para quem quer construir fluxogramas. Bem, não é
natural, isso não brotou do íntimo de seu ser. Preciso te dizer: esse processo
foi aprendido. Você aprendeu e internalizou que para a realização e gestão de
determinada prática é preciso planejamento, considerando a avaliação do que já
se tem, para então estabelecer novas ou adaptadas formas de ação.
Ainda
sobre o exemplo, você utilizou métodos e instrumentos para atender à demanda
solicitada. O conjunto dessas ações até chegar à entrega final é o que
entendemos por metodologia — o grande conglomerado dos passos a passos que você
seguiu para chegar ao resultado.
Fazendo um comparativo com a metodologia científica, por exemplo, observe os métodos e instrumentos que você utilizou:
- Observar como os profissionais atuam no setor – Método observacional (relacionado à pesquisa exploratória e à pesquisa observacional);
- Entrevistar a equipe para entender melhor os processos – Método qualitativo da pesquisa exploratória; a entrevista é considerada como um instrumento de coleta de dados;
- Leituras estratégicas e aplicadas às práticas profissionais encontradas e sistemas utilizados – Passo básico relacionado à pesquisa bibliográfica;
- Buscar identificar as melhores formas de se desenvolver tais práticas, considerando a teoria e os cases de sucesso de outras empresas – Método comparativo, com características da pesquisa descritiva;
- Construir os fluxogramas das atividades – Método descritivo e explicativo;
- Apresentar à equipe para aprovação ou adequações – Publicização dos resultados.
Parece que se você já construiu um fluxograma em seu trabalho, seguindo esse processo, você domina muito bem a metodologia científica, talvez sem nem mesmo ter consciência disso.
Nesse
sentido, pensemos agora na importante necessidade de rompermos alguns muros que
estabelecem limites para o uso de nomenclaturas e desmistifiquemos a ideia de
que metodologia e método são coisas exclusivas do mundo acadêmico. É
possível ser um bom metodólogo em um ambiente corporativo.
Para ser um bom metodólogo no secretariado
Para
um/a profissional de secretariado ser um bom metodólogo/a, é fundamental o
conhecimento global da organização e das práticas profissionais inerentes à sua
atuação. A partir deste conhecimento global, conhecer os processos que garantem
o alcance de determinados objetivos. Por meio desta plena ciência, conseguir
identificar as variáveis da ação, considerando as demandas, a urgência e os
recursos disponíveis. Por fim, não menos importante, estabelecer rotas de
fazimento, orientando a prática de outros profissionais, via representação
gráfica (mapas mentais, fluxos, esquemas, dentre outros), com foco nos
objetivos organizacionais.
Pelo
que converso com profissionais de secretariado de alta performance,
esse passo a passo, processo, é algo corriqueiro e até mesmo naturalizado.
Oras, ouso dizer então, reforçando o que já disse, que assessoras e assessores
executivos são bons metodólogos — aquele que dirige práticas metodologicamente
organizadas.
Concluindo com conceitos
Entendo,
assim, o método secretarial como uma prática profissional de
secretariado com foco no estabelecimento de rotas estratégicas direcionadas à
compreensão e sistematização da ação e/ou obtenção de determinado objetivo
profissional ou corporativo, que gere valor, maximize resultados, potencialize
ações e otimize o uso de determinados recursos. O pleno domínio do
método secretarial é encarado como uma habilidade técnica estratégica de alto
impacto.
Vale dizer que o método secretarial se distingue das técnicas secretariais por constituir-se tecnicamente por processos organizados, lógicos e sistematizados, de caráter intimamente técnico; enquanto as técnicas é a ação intencionalizada regida integralmente pela articulação plena de habilidades técnicas, relacionais e atitudinais — não é possível desintegrá-las para que se estabeleçam em uma única dimensão, o que as distingue das rotinas administrativas, como exploro no capítulo 2 de meu livro Teoria Crítica Secretarial.
Já
a metodologia secretarial é concebida como o conjunto
articulado e integrado de processos que compõem a prática intencionalizada ou
não no âmbito da assessoria executiva, por parte de profissionais de
secretariado, formados ou em formação.
A
grande questão que exploraremos nos próximos textos é a conscientização, tomar
consciência, de como o método secretarial e a metodologia secretarial se
materializam na ação da/o profissional de secretariado.
Sendo
assim, é fundamental que você, leitor ou leitora, entenda que não vou te
ensinar sobre método e metodologia, nem focarei minhas análises em dizer como
você deve ou não aplicar no seu cotidiano. Eu inicio minha conversa
reconhecendo o caráter metodológico da ação secretarial. Seguimos um
processo, um passo a passo, temos um caminho a seguir, então é inviável dizer
que a/o profissional de secretariado não domina método e metodologia, ainda que
não seja de forma consciente e/ou intencionalizada. A prática
secretarial é a materialização do método secretarial.
Já
temos uma agenda específica para explorarmos nos próximos textos:
- Abordagens de pesquisa e do método secretarial
– qualitativa, quantitativa, quali-quanti;
- O método autoetnográfico secretarial;
- O método autobiográfico secretarial;
- O método exploratório secretarial;
- O método descritivo secretarial;
- O método bibliográfico e documental
secretarial;
- Técnicas de pesquisa secretarial;
- Amostragem na pesquisa secretarial;
- Apresentação de dados resultantes da aplicação
do método secretarial.
MOURA,
Jefferson Sampaio de. A questão do método secretarial e da
metodologia secretarial. Blog Um Sampaio, 2022. Disponível em
<inserir link> . Acesso em XX mês de ano.
Espetacular! Muito claro, objetivo e didático. Parabéns! Sucesso sempre!
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