Agenda 2021 – Demandas urgentíssimas para profissionais de secretariado



Chegamos ao fim de 2020 e, em meio a tantos desafios, precisamos reunir forças para conseguirmos pensar estrategicamente as nossas ações para 2021. O planejamento é um dos primeiros passos para conseguirmos delimitar uma linha de ação e, com isso, estabelecermos novos rumos para nossas realidades, tanto no âmbito profissional como no pessoal.

Para os profissionais de secretariado, planejar é, ou deveria ser, um hábito diário, já que temos uma formação que nos permite o desenvolvimento de habilidades relacionadas ao planejar, organizar e gerir as nossas rotinas, carreiras e projetos.

Enquanto categoria, temos demandas urgentes, ouso dizer urgentíssimas. Em 2020, vimos a tecnologia digital tomar conta de nossas práticas com mais força do que em outros anos; tivemos que nos adaptar ao trabalho remoto e estabelecer uma rotina profissional dentro de nossos lares; e, como em outros anos, vimos cursos de secretariado serem extintos.

Hoje, dia 29 de dezembro de 2020, tirei a manhã para pesquisar quantos cursos de secretariado temos ativos, em extinção e extintos no Brasil. A consulta foi feita no Cadastro Nacional de Cursos e Instituições de Educação Superior – Cadastro e-MEC, do Ministério da Educação. Temos os seguintes resultados:

 

Primeiro Momento

·       132 cursos ativos:

o   24 em Instituições de Ensino Públicas

o   108 em Instituições de Ensino Privadas

·       Autorizados a ofertarem 128.106 vagas:

o   1583 em Instituições de Ensino Públicas

o   126.523 em Instituições de Ensino Privadas

·       Informação importante: A Universidade Paulista – UNIP, está autorizada a ofertar 73.260 vagas

O que os dados nos revelam:

As Instituições de Ensino Privadas podem ofertar mais vagas que as Públicas e tem ativa a maior quantidade de cursos específicos da área. Veremos na tabela “Censo da Educação Superior” quem tem formado mais alunos, enquanto isso pensemos em duas questões:

Em que medida as Instituições Públicas, enquanto órgãos privilegiados e mantidos pelo dinheiro público, tem ofertado apoio às Instituições Privadas em seus processos formativos e manutenção dos cursos ativos, uma vez que não é capaz de sanar toda a demanda de formação existente no âmbito do secretariado? 

Em que medida tem ocorrido o intercambio de informações motivado pelas próprias Instituições Públicas?

 

Segundo Momento

·       58 cursos em processo de extinção:

o   Estavam autorizados a ofertarem 6568 vagas

·       Algumas das instituições que extinguirão o curso de secretariado:

o   Centro Universitário FACEX – Começou a ofertar em maio de 1981

o   Centro Universitário Newton Paiva – Começou a ofertar em agosto de 1981 (EXTINTO)

o   Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Começou a ofertar em fevereiro de 1984

o   Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Começou a ofertar em maio de 1984

o   Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Começou a ofertar em agosto de 1984

o   Centro Universitário Sagrado Coração – Começou a ofertar em fevereiro de 1987

O que os dados nos revelam:

Curso antigos, fundados antes mesmo da promulgação da Lei de Regulamentação da Profissão, nº 7.377/1985, estão fechando as portas. Para sabermos os reais motivos, é preciso pesquisa. Enquanto não temos os reais motivos, levantamos hipóteses do que pode ter ocorrido: a diminuição da demanda; a falta de interesse da instituição em continuar ofertando o curso; o baixo retorno financeiro dado pelo curso em comparação aos das áreas da saúde, construção civil e tecnologias; dentre outros.

São 6568 vagas que não serão mais ofertadas. Isso impacta diretamente no mercado, que passa a receber menos profissionais com formação específica das Instituições de Ensino, o que pode causar uma série de questões problemáticas a médio e longo prazo para o secretariado: a extinção das instituições de representação de classe, por falta de adesão; a extinção dos eventos específicos da área; a dificuldade do mercado em preencher vagas com profissionais qualificados, deslocando o pré-requisito somente para a experiência profissional; dentre outros.

 

Terceiro Momento

Para refletirmos de modo mais elaborado, precisaremos recorrer a mais dados, só que agora do Censo da Educação Superior, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, de 2018 e 2019, relacionados aos cursos de secretariado:



O que esses dados nos revelam:


As Instituições Privadas tem ofertado o maior quantitativo de vagas para cursos de graduação em secretariado, ainda assim são as Públicas que tem mais inscritos. Com a consolidação do Sistema de Seleção Unificada – SISU, como mecanismo de entrada para a grande maioria das Instituições Públicas, a concorrência que antes sofria um recorte regional, hoje passa a ser nacional: temos candidatos de diversas partes do país concorrendo a uma mesma vaga. Com base em estudos e rankings nacionais e internacionais que confirmam a qualidade da Universidade Pública brasileira e com a oferta de cursos em períodos que facilitam o trabalhador-aluno trabalhar, a demanda para essas instituições tende a aumentar, já que “não custa nada tentar uma vaga em uma Universidade Pública, mesmo que longe da minha casa”. Aí, precisamos casar os dados de inscritos com a quantidade de vagas ofertadas e a quantidade de ingressos.


Em 2018, de 14.967 candidatos inscritos para as vagas das Universidades Públicas, somente 1.485 candidatos ingressaram. Para onde foram os 13.482 candidatos que não foram contemplados? Novamente iremos trabalhar com hipóteses: para outros cursos, já que o sistema os permite escolher mais de uma opção; para outras instituições públicas, já que o sistema também permite isso; para instituições privadas, possivelmente com bolsas de desconto; para outros cursos em instituições privadas, com a mensalidade mais barata. O que não falta é hipótese. (Veja a nota de rodapé)


Quem tem ofertado mais profissionais formados para o mundo do trabalho são as Instituições Privadas. Isso demanda de nós, profissionais formados, um cuidado especial com essas instituições, ofertando apoio para manter os cursos ativos. Enquanto no âmbito público, o sistema já traz o candidato (não se assuste ao ouvir, dentro de uma sala de uma Universidade Pública, alunos dizerem que estão fazendo o curso porque foi o que dava para conseguir com a nota que tinham e queriam fazer um curso de graduação em uma Instituição Pública, independentemente de qual fosse), para as Instituições Privadas, esse processo de conseguir aluno é extremamente complicado, pois está diretamente ligado à demanda.


A questão então passa a ser: como fazer com que o curso de secretariado seja atrativo para os jovens de hoje e a demanda continue existindo, no âmbito público e privado?

 

É com base nesses dados e nos questionamentos elencados que eu proponho uma agenda urgentíssima de trabalho para todos os profissionais de secretariado. Eu divido a agenda em quatro grandes grupos e para cada um deles eu apresento demandas específicas que podem nortear o trabalho dele, caso julgue viável. O primeiro grupo é o Instituições de Ensino Superior, compreendido aqui pelas instituições públicas e privadas e docentes; o segundo é Discentes, constituído pelos alunos dos cursos de secretariado; o terceiro é o Representações de Classe, constituído pelos sindicatos, comitês e federação; e o quarto e último, não menos importante, é o Profissionais, composto por secretárias e secretários não acadêmicos que atuam na assessoria direta e/ou no empreendedorismo e consultoria aplicados ao secretariado.


 

INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR

  • Ofertar uma educação contextualizada, emancipadora, libertária, crítica e aplicada;
  • Construir cursos com base em uma formação holística para a excelência, mas incentivar o autoconhecimento e as escolhas individuais dos sujeitos envolvidos no processo formativo;
  • Pensar em cursos que tenham o trabalho como princípio educativo e não como fim “desprendido” do processo formativo. Somos uma ciência social aplicada, e eu não preciso de uma instituição certificadora confirmando isso, o mercado já confirma. Onde está a grande massa dos profissionais formados em secretariado? Reflita sobre isso;
  • Projetar cursos com base em uma formação humana, para o século XXI e para o letramento digital;
  • Estabelecer matrizes tecnológicas, que permitam o pleno letramento digital do estudante;
  • Possibilitar espaços de debates e de compartilhamento de poder com foco no desenvolvimento da criticidade e autonomia dos discentes;
  • Incentivar as representações estudantis, como forma de compartilhamento do poder decisório;
  • Para as Instituições Públicas: ofertar apoio às Instituições Privadas no processo de reformulação de seus cursos. Prestar apoio também nos eventos profissionais realizados por essas instituições. Estabelecer um elo de comunicação e intercâmbio entre os alunos e os docentes. Respeitar as limitações das instituições privadas e buscar janelas e possibilidades de apoio e contribuição para a formação profissional desses alunos; e
  • Para os docentes: estabelecer elo de comunicação direta com profissionais que atuam na assessoria direta e/ou no empreendedorismo e consultoria aplicados ao secretariado, sem nenhum tipo de hierarquia, mas na perspectiva de troca de informações e apoio mútuo. Atualizar-se acerca do mercado, com base no intercambio entre academia e mundo profissional e participação em eventos profissionais, onde são apresentadas as novas demandas do mundo do trabalho. Não encarar os profissionais de secretariado como meros sujeitos de pesquisa.

 

DISCENTES

  • Articular parcerias com profissionais atuantes no mercado, no sentido de conseguir compreender a prática profissional e assim refletir sobre ela;
  • Buscar áreas de atuação de maior interesse e tentar pensar em uma trajetória profissional que lhe permita chegar até elas;
  • Se conhecer e construir um plano de carreira com base em suas aptidões e seus interesses pessoais;
  • Participar dos processos decisórios do curso e da categoria;
  • Reivindicar espaço nos processos decisórios da instituição de ensino na qual realiza seus estudos; e
  • Sinalizar à Federação Nacional das Secretárias e Secretários – FENASSEC, arbitrariedades cometidas por docentes com formação em secretariado, que vão contra o Código de Ética da Profissão, na instituição em que estuda.

 

REPRESENTAÇÕES DE CLASSE

  • Refletir junto com pesquisadores da área e IES a base da profissão, os paradigmas negativos por trás da profissão e como se sustentam, a articulação entre teoria e prática na formação profissional e as demandas atuais para o profissional de secretariado;
  • Criar um plano de ação exequível, plausível, cauteloso, com metas e prazos bem estabelecidos com base nos dados obtidos;
  • Continuar na reinvindicação de direitos para a categoria e zelar pela dignificação da profissão; e
  • Construir, em parceria com profissionais e discentes uma nova realidade para o secretariado, de modo a legitimar a excelência que a profissão já detém.

 

PROFISSIONAIS

  • Divulgar os pontos positivos e boas práticas ligadas à profissão;
  • Ter uma postura coerente com o Código de Ética Profissional;
  • Evitar atitudes que desmereçam a profissão;
  • Evitar a reprodução de paradigmas negativos;
  • Zelar pela formação continuada e o aprimoramento constante;
  • Ser positivo em seus pronunciamentos, incentivando estagiários e colegas de empresa a fazerem o curso de secretariado;
  • Participar de Representações de Classe, de modo a incentivar e apoiar os coletivos que te ajudam na luta por melhores condições de trabalho e dignificação da profissão; e
  • Auxiliar as IES e Representações de Classe na luta pela legitimação da excelência do secretariado.

 

Temos muito a fazer e, penso eu que, precisamos ter uma base bem consolidada para começarmos a pensar em próximos passos. O risco de acabar os cursos de graduação em secretariado nas instituições privadas de ensino é latente e, com isso, perdermos mercado. Se ficarem somente as instituições públicas, dificilmente manteremos uma profissão com somente 704 formados por ano. O momento demanda união e trabalho de base, repito. Precisamos fazer primeiro o básico que é nos manter vivos nas instituições de ensino e nas organizações.

Feliz 2021!


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Nota de Rodapé inserida dia 19/01/2021

É fundamental entendermos que a Universidade Pública dispõe de uma série de limitações. Primeiro, a estrutura física nos impede muitas vezes de ofertarmos mais vagas. Segundo, pode até ser que a Universidade tenha a estrutura, mas o corpo docente? Para contratação é preciso concurso, o que envolve um altíssimo investimento, e justificativa em número de que é preciso mais docentes para aquela área. Terceiro, entra a divisão de carga horária docente, o professor universitário precisa desenvolver pesquisa, extensão e ensino, o que dificulta a abertura de novas vagas. No serviço público nem todo querer é poder.

Comentários

  1. Realidade que vem s construindo há algum tempo, meu amigo. Alguns colegas da UNIOESTE já publicaram dados nesta direção no ENASEC de 2017 e revisaram mais tarde... Qual será nosso futuro? Sua reflexão pode nos levar a discutir o movimento social com causas complexas: trabalho, formação, educação, espaço social, organização... E muitas outras. Grande abraço, meu amigo. Saudades de conversas contigo.

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  2. REALIDADE PURA - aqui na capital das Minas Gerais, infleizmente, ficamos sem o excelente curso da Newton Paiva, pelo qual me formei, ficamos sem represnetação de classe, estamos órfãos, lutando através do @secexmg para levar ocnteúdo e ocnhecimento aos profisisonais do Estado, buscando reunir profissionais engajados para não deixar "morrer" a nossa profissão aqui, mas é uma luta, remar ocntra a maré....dizem que "uam andorinha só não faz verão", mas por aqui é o que parce!!! Sigo na batlaha, na missão que acredito e vamos em frente!!!!

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  3. Jefferson meu amigo, hoje parei para ler com calma seu texto... esse é justamente um daqueles textos para serem lidos com a atenção plena: fala da profissão, traz dados, indica possíveis agendas e reflete/provoca sobre questões corriqueiras, que de tão corriqueiras deixam de ser discutidas.
    Concordo muito contigo sobre as articulações possíveis entre mercado/profissionais, discentes, entidades de classe e IES. O diálogo, tão presente na nossa profissão, deve existir de fato e não apenas na teoria.
    Há de se questionar os porquês da diminuição de cursos e de vagas preenchidas. Há de se pensar nas formas de visibilizar a profissão e seus aspectos. Há também a necessidade de profissionais que façam essas pontes... E você é um desses profissionais!
    Obrigado pelos dados! Obrigado pelas provocações.
    E que essa agenda seja divulgada e executada em várias frentes, pois é disso que precisamos.
    Grande abraço.
    Rodrigo Müller

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